Age of Addiction

denial quit smoking on monday; not quite the lord’s day, but close enough. addiction is a devilish creature so this is the last time, but she said that last time. bargaining said “this is the last…

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A bela conquista do nada

Era um dia como qualquer outro, mas nada saía. Nem um relance, um pingo, um átomo pipocava na mente. Um vazio angustiante tomava conta sem ser convidado, rapidamente conquistando lugares nunca antes conhecidos. A tela em branco não parecia querer ser pintada. Mas, mesmo que quisesse, com o que seria suavemente tocada? A solidão não permitia que nada ali vivesse. Nada, a não ser ela.

Bernardo encontrava-se em um beco sem saída. Desceu as escadas e foi à mesa para o café da manhã, mas nada de novo surgia. Parou na porta de seu escritório, onde reluziam prêmios derivados de sua escrita. Uma estante ricamente ordenada continha seus “filhos preciosos”, como só ele — secretamente — chamava suas obras. Olhou atentamente para eles, pensando em como criar um novo integrante dessa lista. Ficou nessa posição por alguns segundos, que pareceram horas para o angustiado escritor. Sem que nada lhe viesse à cabeça, rumou para a cozinha, esperando que um bom café quente pudesse derramar novas ideias em sua mente.

Bernardo tomou lentamente, tentando vislumbrar cenários possíveis para colocar em uma folha. A conversa com Clara, que dizia sobre como sua semana no escritório estava sendo custosa, não era algo digno de sua atenção. Precisava focar única e exclusivamente no seu raciocínio. Forçava a sua mente ao máximo, mas de lá nada vinha. Nem uma gota saborosa de criatividade. Pensou que o motivo seria a voz da esposa ao fundo, e por isso arranjou prontamente uma desculpa para ir à sua escrivaninha. Sentou-se e continuou a pensar, imaginando o que gostaria de falar a um caro leitor. Contudo, a seca permaneceu. Estava encarando a folha como um soldado encara seu adversário no campo de batalha, preparando para atacá-lo a qualquer momento, com a mais cruel violência imaginável. O lápis seria sua arma, pronta para alvejar a folha. Mas a munição estava em falta. Quem dera estivesse escassa! Antes pouco do que nada. A violência não era contra a folha, e sim contra a mente, compelindo-a a emanar ao menos um raio de luz nas trevas do espírito.

E assim ficou durante todo o dia. O almoço foi degustado ali mesmo, apesar de o sabor da comida estranhamente parecer ter desaparecido. Uma gripe, de certo. Nada que o impedisse de continuar sua árdua missão. Veio a noite, mas não as ideias. Ficou até de madrugada à sua mesa, quando decidiu que um bom sono poderia ser o empecilho. Convencido de que sabia o remédio para seu mal, subiu as escadas e deitou-se, não permitindo quaisquer divagações que atrapalhassem seu precioso descanso. Afinal de contas, era isso que iria resolver toda a sua angústia.

Amanhecido o novo dia, Bernardo não quis levantar da cama cedo como de costume, dispensando o café da manhã oferecido pela esposa. Tendo dado 10 horas, ergueu-se como um homem renovado, com um espírito incontível, pronto para destilar sua ferocidade no papel que repousava à sua mesa. À passos largos rumo ao escritório, pensava que hoje nada o impediria, nem mesmo o próprio vazio. Sua mente estava preparada para encarar qualquer que fosse o desafio, deixando para trás as dificuldades do dia anterior. Sentou-se na cadeira com determinada determinação. Como um Santo que encontra no Sacrário seu júbilo, sentia que nas suas ideias — e apenas nelas — repousava a sua alegria diária. E, como já tinha tomado o medicamento para revitalizar a consciência, a própria felicidade seria revitalizada. Pegou o lápis e tocou-o na superfície da folha… e então parou. Tudo estava em sua alma para escrever — coragem, motivação, firmeza, conhecimento -, menos a bendita ideia. Cavucou continuamente, mas o vácuo permanecia lá. Direcionou seus olhos para todo o escritório, procurando algo que pudesse lhe trazer alguma inspiração. Observou seus livros, as plantas extremamente bem cuidadas rente à janela, os detalhes esculpidos no pau-brasil da grande porta do escritório…mas não obteve deles um ínfimo sopro de vida criativa. Buscava, mas nada achava. Pensava, mas não lhe surgiam bulhufas. Angustiava-se, mas a esterilidade mental não se importava com isso.

E assim decorreu o dia seguinte, e o próximo, e a nova semana, o novo mês e os novos anos. Dizer que o vácuo subjugou sua mente é apenas uma suave forma de descrever o que com ele ocorria. Imaginou que devesse ler assiduamente todos os autores que conseguisse, de todos os estilos existentes. De Machado de Assis à Gregório de Matos, de Vergne à Jorge Amado, de Clarice Lispector à Allan Poe, passou horas lendo seguidamente, chegando a começar e concluir romances em um só dia. Mas nada de um vislumbre digno da folha. Pensou então que não seriam autores já falecidos que lhe dariam uma aura imaginativa, e sim alguém ainda presente neste vale de lágrimas. Convenceu-se de que ninguém seria melhor para ajudá-lo do que sua amada companheira. Converteu-se em um marido exemplar, dando a Clara todo o amor que pudesse dar. Não que esse amor fosse em si por ela, mas sim na espera de um conceito a ser posto no papel. Mas que diferença isso teria?! À seus olhos determinados, estava sendo o mais nobre dos cavalheiros. Clara, ávida pelos afetos do marido, confiou que as demonstrações eram um resultado do interior de seu amado, e passou a amá-lo ainda mais. Mas, como já é possível imaginar, a infertilidade seguiu reinando.

Teve então uma ideia ainda mais brilhante: precisava de novos ares para ser um homem revitalizado, podendo então desfrutar de novas imagens que o mundo o inspirasse. Decidiu correr o mundo, mas sem levar Clara, visto que ela, após a experiência amorosa fracassada, havia se tornado em um empecilho para sua criatividade. E isso o fez sem sequer lançá-la um olhar de mínima afeição. Determinado a seguir seu caminho, partiu rumo à Europa. Visitou França, Alemanha, Reino Unido, Espanha e tantos outros países quanto podia imaginar. Comprometeu-se a percorrer todos os pontos, e assim o fez. Terminada a exploração do Velho Continente, encaminhou-se para a África, depois Ásia, Oceania, e, por fim, as Américas. Mas nem as mais belas obras divinas e humanas eram capazes de ressuscitar sua imaginação.

Os anos foram passando, e junto com eles a sua sanidade foi-se igualmente. As mais mirabolantes teorias surgiram para curar sua moléstia. Adotou o vegetarianismo, só para, depois de mais uma desilusão, converter-se para o carnivorismo. Foi de Católico a Protestante, e depois Judeu, Muçulmano e, por fim, ateu. Chegou a ficar dias acordado, esperando uma batida na porta que trouxesse o que tanto queria, mas só o silêncio adentrou. De tudo fez, mas nada conseguiu. Passou a comer cada vez menos, ficando mais parecido com um cadáver ambulante do que um propriamente falecido. Clara passava por ataques de nervosismo constantes, mas ainda se mantinha firme, ao contrário das mechas do cabelo, espalhadas pela casa.

Mas tudo tem um limite, e o de Clara foi os planos de suicídio do marido. Dizia ele que na morte encontraria sua cura, podendo ser mais bem sucedido que seu companheiro Brás Cubas, com quem dizia conversar todas as noites. Bastou uma ligação e o furgão já estava na porta da casa. Três homens entraram e quatro saíram. Bernardo esperneava como uma criança, chutando os outros que o carregavam, enquanto Clara lançava mão de seu estoque infinito de lágrimas, que caíam ao pé da calçada. As portas se fecharam, e um grito abafado saiu, tentando percorrer os caminhos vazios da rua. A ignição resistiu, mas deu a partida. Primeira marcha e a van começou a descer pelo asfalto. Clara a observava se afastando lentamente, tentando controlar ainda mais o rio que escorria pelo rosto.

Chegado ao hospício, Bernardo ainda ansiava por um remédio. E, com novos companheiros tão lúcidos e geniais, não seria difícil de achar uma ideia. Contudo, nem a nascente loucura produzia frutos. E esta foi crescendo cada vez mais rápido, até ele se tornar o mais notável dos habitantes do gigantesco casarão. Encenava peças de Shakespeare sozinho, interpretando todos os personagens. Dentro de um mesmo dia, podia ser desde Bentinho até Escobar e Capitu, e, ao fim da noite, dizia ter conversado muito com seus colegas. Com o passar das semanas foi ficando mais vivo, e achava que, finalmente, teria seu remédio. Com uma última ideia prodigiosa, tentou assassinar alguns de seus pares, para que a alma deles, no além-morte, pudessem empurrá-lo de volta à grandeza. Mas, após tentar — e fracassar — na primeira execução, foi empurrado para a solitária.

Um grande recinto, com pedras do chão ao teto, e apenas uma janela de luz o recebeu. Adentrou depressivo, lado a lado com a loucura. A cada dia os sintomas pioravam, levando-o da tristeza profunda à alegria colossal. Contudo, veio uma manhã, a 365º dentro de sua mansão emparedada. Ficara a noite acordado, chutando as paredes para derrubá-las. Depois de horas e os pés quebrados, levantou-se, sem sentir dor. Pegou um pedaço de rocha minúsculo que achou no chão e começou a escrever nas paredes. Havia algo. Havia uma ideia. A faísca surgiu.

Daquele dia em diante não parou mais de escrever, e nem de ter novos pensamentos. As paredes se cobriam de traços grossos que formavam letras ilegíveis para qualquer um, mas uma impecável obra para o que sobrou de Bernardo. Havia conseguido. Depois de décadas de sofrimento e angústia, finalmente voltava a ter algo sobre o que falar ao mundo. A loucura, que já o dominara, sorria expondo a boca com poucos dentes. Lá no fundo, tinha conseguido. Nunca mais seria o mesmo, como já não era há muito tempo. O velho Bernardo morreu, dando lugar a uma massa andante sem vida. A alegria não se encontrava com os olhos, mergulhados no eterno vazio de uma alma sumida. E esse novo ser pulava de um lado ao outro, como nenhum homem jamais vibrou de felicidade. Havia conquistado tudo, mas não tinha nada.

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