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As mulheres fora do horizonte

Por Winola Weiss — Outubro/2016

Quando pensamos no movimento modernista brasileiro, costumamos ter poucas referências femininas na ponta da língua. Geralmente, conhecemos apenas Tarsila do Amaral e Anita Malfatti — que, embora tenham sido grandes expoentes do Modernismo, eram artistas plásticas. E as mulheres escritoras da época? Havia alguma? Se sim, qual era sua posição em relação à geração de 22?

No momento em que eclode a geração de 22, uma quantidade expressiva de mulheres brasileiras já participava ativamente da vida pública. No final do século XIX, os movimentos abolicionista e republicano tinham várias mulheres a engrossar suas fileiras. Na mesma época, começam a surgir as primeiras manifestações feministas no país. Entre o público letrado, inicia-se a circulação de textos escritos por mulheres. Em São Luís do Maranhão, no ano de 1859, Maria Firmina dos Reis publica Úrsula, sendo considerada a primeira escritora brasileira. A potiguar Nísia Floresta é a nossa primeira escritora feminista, publicando Direito das mulheres e injustiça dos homens (1832), uma tradução livre de Vindication of the rights of women (1792), de Mary Wollstonecraft. A partir da década de 1870, houve crescimento do número de jornais e de revistas feministas, e como neste momento as atividades jornalística e literária ainda eram bastante relacionadas, os periódicos eram um espaço relevante de divulgação de artistas e de textos políticos. Um ponto comum entre as diferentes produções é o conflito interior motivado pelo desenvolvimento da autonomia e pela busca da identidade e da felicidade voltada para a satisfação pessoal das personagens femininas. Essa satisfação deixa de ser ligada estritamente às expectativas sociais ligadas aos papéis de gênero, e passa a se relacionar com o trabalho, a sexualidade e a condição política enquanto mulher. São expoentes deste período — sobretudo no que se refere à interface literatura e feminismo — Júlia Lopes de Almeida, literata e colunista (que chegou a concorrer à Academia Brasileira de Letras, mas foi excluída por ser mulher) e Carmem Dolores, colunista de diversos jornais importantes da época.

No início do século XX, a tomada de consciência se aprofunda, e as mulheres enrijecem suas posições nos campos político (sufragismo), trabalhista (ingresso no mercado de trabalho) e pedagógico (valorização das mulheres no campo). Temos então Francisca Júlia, poetisa parnasiana e simbolista, cuja obra foi elogiada pelo próprio Mario de Andrade e Gilka Machado, sufragista e autora de polêmicos versos eróticos (esses, criticados pelo mesmo modernista).

Comprovada a participação das mulheres nesse campo da vida pública, surgem as questões: onde foram parar essas escritoras, já que não estão nos manuais de história da literatura? Seria este mais um exemplo do apagamento das experiências femininas num campo de destaque da vida pública? Por que essas artistas não se encontram no horizonte de retrospecção dos grandes historiadores da nossa Literatura?

É verdade que, no geral, as escritoras da época estavam bastante desvinculadas do movimento modernista. Enquanto os filhos do coffee business focavam a renovação estética como forma de libertação e autoafirmação nacional, a luta das mulheres se dava no nível do “conteúdo”, pautando a assimetria nas relações de gênero e incentivando a luta das mulheres Embora o movimento fosse, em geral, protagonizado por mulheres da classe alta, havia a consciência do valor da educação na vida das mulheres. Sua escrita, fosse em formato literário ou jornalístico, propagava essa tomada de consciência.

Tendo em vista a importância de sua produção para a conquista do sufrági o feminino e de diversas outras mobilizações em sua época, por que essa literatura não entrou para o cânone? É verdade que, na formação do cânone nacional, busca-se a capacidade de refletir sobre a identidade e a realidade nacionais. Entretanto, quais são os olhos que buscam essa universalidade? Quanto há de realmente representativo nela?

É de se compreender que o Modernismo pareça mais universal aos olhos masculinos, posto que parte da juventude da elite, estudada, viajada, era masculina e branca. No entanto, é preciso questionar a historiografia canônica, que não foi capaz (em parte, devido a suas contingências históricas) de enxergar o universalismo do movimento feminista do início do século, posto que lutava para melhorar as condições de metade da população brasileira.

Com o advento da historiografia feminista, temos como pauta a reescrita da História, a introdução das perspectivas e das experiências das mulheres. Esse trabalho se faz especialmente premente, porque, hoje, o registro acadêmico e historiográfico possui um caráter de “verdade positiva” capaz de mistificar preconceitos e relações de exploração. E isso é importante porque o registro acadêmico, aliado ao político, cria e mantém ideologias sob o símbolo da “verdade positiva”, mistificando preconceitos e relações de exploração.

Para saber mais:

Mulheres e Modernismo: A autoria feminina na história literária brasileira”, de Tássia Tavares de OLIVEIRA

Winola gosta de se perder pelas cidades e discutir linguística no bar. Feminista e professora, é formada em Letras pela FFLCH/USP e hoje faz mestrado na mesma instituição, pesquisando empatia no YouTube.

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